Trecho de Memórias de uma Gueixa

'Por favor, me perdoe o que vou dizer - consegui articular por fim.
Tentei prosseguir, mas minha garganta queria engolir... nem sei o que
engolia, talvez um pequeno nó de emoção que eu tinha de esconder ali, porque em
meu rosto não havia mais lugar.
-Tenho um grande afeto por Nobu, mas o que fiz em Amami... - tive de controlar um longo momento o fogo em minha garganta, antes de prosseguir. -
Fiz o que fiz em Amami por causa do meu sentimento por você, Presidente.
Todo passo que dei em minha vida desde quando era criança em Gion, foi dado
na esperança de me aproximar de você.'


Comecei com esse trecho de Memórias de uma Gueixa porque me lembrou de um texto que escrevi a um tempo atrás da Sofia. Assim que comecei a ler lembrei do texto e vi que tinham tudo a ver, só não sei dizer a vocês se ela só imaginou essa cena ou se realmente foi verdade. Sem mais ai vai o texto:


'Era um dia completamente normal para Sofia, sua rotina fora a mesma, mas dentro de si, ela sentia uma coisa que não sabia definir, um misto de angustia com euforia. Talvez fosse reflexo do sonho que tivera a noite passada com ele. Achou um tanto estranho que, mesmo após 5 anos sonhasse com ele, apesar de seus sentimentos nunca terem diminuído ou acabado, apenas ficaram adormecidos nesses anos todos.
Voltou as suas tarefas tentando esquecer daquela estranha sensação da manhã, mal sabia ela das surpresas da vida que a aguardavam durante o dia. Como era um sábado e que ela não tinha que trabalhar, fez todas suas tarefas de manhã e decidiu passear, ver pessoas e se distrair.
Caminhando pelo parque, por mais que tentasse esquecer, os pensamentos da manhã a
inundaram, como ela já imaginava que o fariam. O que ela não esperava é que naquele mesmo dia, como um toque do destino o encontraria no mesmo lugar. Ela não sabia o que fazer ou mesmo como agir, decidiu então fingir calma, e foi cumprimenta-lo.
Conversaram por um longo tempo, ela não conseguia se concentrar na conversa pois lembrou-se dos pensamentos e o sonho que tivera, e aqueles sentimentos até então adormecidos pareciam um vulcão em erupção que ela não sabia se iria conseguir controla-los. E apesar de tentar fingir muito bem, pois os anos lhe ensinara a fazê-lo, perto dele tudo mudava, e mesmo após sonhar com esse encontro inúmeras vezes e imaginar como seria ou reagiria, tudo ficava diferente e difícil na realidade com ele tão próximo.
Durante aquela tarde mataram saudade daqueles velhos tempos, e ele a convidou para continuarem a conversa mais tarde, ela aceitara sem saber se era a decisão correta, o medo, a vontade de ir, aqueles sentimentos todos,
mas sempre fora guiada pelo coração que claro gritou muito mais alto do que a razão. Naquele encontro tudo corria naturalmente até que em certo momento ele ficou calado por um tempo, Sofia preocupou-se e perguntou-lhe o que havia de errado.
Ele a fitou de uma maneira tão esquisita e ao mesmo tempo tão contemplativa e finalmente disse-lhe:
- Quando te vi naquele parque hoje de manhã, lembrei de nós naquela época, e também o quanto fui tolo.
- Por que se sentiu um tolo? - Perguntou Sofia, num misto de confusão e sentimentos que não soube dizer quais eram.
- O quanto fui tolo por ter perdido tanto tempo, mesmo sabendo o que sempre senti por você, e ainda sinto. Hoje sei muito bem o que perdi vendo e tendo você aqui tão perto.
Ela baixou os olhos, não sabia o que falar, ficou tantos anos imaginando como seria esse momento, com o rosto em chamas e os olhos já marejados ela o encarou por um longo tempo tentando reunir as palavras , que nem saberia se conseguiria dizê-las, suspirou profundamente e agora sem tentar segurar as lágrimas disse-lhe:
- Naquele tempo, quando lhe contei o que sentia, sabia que nunca gostaria de mim da mesma forma, e mesmo assim menti quando disse que estava tudo bem, e que isso passava - baixou os olhos e continuou - No começo eu sofri e chorei muito, e fiquei assim por Deus sabe quanto tempo, dia após dia pensando em você, te imaginando comigo, e isso me torturava e me magoava ainda mais, mas a lembrança me mantinha perto de você...
Ele a interrompeu e disse:
- Sei que não tenho direito nenhum e imagino o quão triste você ficou, sou um idiota por ter feito isso, mas ainda por ter dito que não sentia o mesmo...
Ela gentilmente lhe pediu que a escutasse pois precisava, já que começou, tirar tudo aquilo de dentro do coração e prosseguiu:
- Não fiquei sozinha, depois de longos meses pensando, resolvi que tinha que sair daquela fossa que eu mesma me coloquei, mas sempre que achava alguém, não conseguia amar, apenas sentia uma grande amizade e nada além disso. Porque eu sempre procurava você nelas.
Explicou que só se interessava porque sempre encontrava algo que o lembrava, o sorriso, o abraço, o jeito animado de sempre, aquela alegria e os traços físicos parecidos, pois igual mesmo só os dele. E se deu conta que mesmo depois de 5 anos longe dele nada havia mudado.
Ficaram calados por muito tempo, absorvendo aquela conversa , e para Sofia era como um desabafo que ela não sabia se terminaria da mesma forma de antes ou se seus sonhos e desejos virariam realidade.

O silêncio se manteve porque nenhum dos dois sabia o que dizer naquela hora, quando se entreolharam seguiram o que seus corações lhe pediam e se beijaram apaixonadamente, para Sofia foi como um sonho realizado, durante 5 anos quis provar dos seus beijos e imaginava como seriam, naquela hora não foi nada do que ela esperava, foi mil vezes melhor.'


Não farei explicações do texto, o texto em si já diz tudo e já me alonguei demais nesse post, acho que esse foi um dos textos que eu mais revisei em 5 minutos que peguei o papel, lia arrumava, relia arrumava outra coisa e assim mais 3 vezes. Sofia é uma inspiração maravilhosa, espero que tenham gostado como eu outrora gostei de escrever.
Até a próxima.

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